sábado, 24 de setembro de 2011

PRIMEIRA PARTE
RESUMO DA HISTÓRIA DO ANTIGO TESTAMENTO
 Criação do mundo
10. No princípio Deus criou o céu e a terra, com tudo o que no céu e na terra se contém; e ainda que pudesse acabar esta grande obra em um só instante, quis empregar seis períodos de tempo, que a Sagrada Escritura chama de dias.
No primeiro dia disse: “Faça-se Luz!” – e houve luz; no segundo fez o firmamento; no terceiro separou as águas da terra e a esta mandou que produzisse plantas, flores e toda a espécie de frutos; no quarto dia fez o sol, a lua e as estrelas; no quinto criou os peixes e as aves; no sexto criou as espécies animais e, finalmente, criou o homem.
No sétimo dia cessou Deus de criar, e este dia, a que chamou Sábado, que quer dizer descanso, mandou mais tarde, ao povo hebreu, por meio de Moisés, que fosse santificado e consagrado a Ele.

Criação do homem e da mulher
11. Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e o fez assim: formou o corpo de terra; depois soprou em seu rosto infundindo-lhe uma alma imortal.
Deus impôs ao primeiro homem o nome de Adão, que significa formado de terra, e o colocou em um lugar cheio de delícias, chamado Paraíso terrestre.

12. Mas Adão não estava só. Querendo, pois, Deus associar-lhe uma companheira e consorte, infundiu-lhe um profundo sono; e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, da qual formou uma mulher, que apresentou a Adão. Este a recebeu com alegria e a chamou Eva, que quer dizer vida, porque ela devia ser a mãe de todos os viventes.

Dos Anjos
13. Antes do homem, que é a criatura mais perfeita do mundo sensível, havia Deus criado uma infinita multidão de outros seres, de natureza mais elevada que o homem, chamados Anjos.

14. Os anjos, sem forma nem figura alguma sensíveis, porque são puros espíritos, criados para subsistir sem ter de estar unidos a nenhum corpo, haviam sido feitos por Deus à sua imagem, capazes de conhecê-lO e amá-lO, e livres para fazer o bem e o mal.

15. Foram eles submetidos a uma prova. No momento da prova, muitíssimos destes espíritos permaneceram fiéis a Deus; mas muitos outros pecaram. Seu pecado foi de soberba, querendo ser iguais a Deus e não depender d’Ele.

16. Os espíritos fiéis, chamados Anjos bons ou Espíritos celestes, ou simplesmente Anjos, foram premiados com a felicidade eterna da glória.

17. Os espíritos infiéis, chamados Diabos ou Demônios, com seu chefe, que se chama Lúcifer ou Satanás, foram lançados fora do Céu e condenados ao Inferno por toda a eternidade.

Pecado de Adão e Eva e seu castigo
18. Deus havia posto Adão e Eva em estado perfeito de inocência, graça e felicidade, isentos, portanto, da morte e de todas as misérias da alma e do corpo.

19. Havia-lhes permitido que comessem de todos os frutos do Paraíso terrestre, proibindo-lhe apenas que experimentassem o fruto de uma árvore que estava no meio do Paraíso, e que a Escritura chama árvore da ciência do bem e do mal. Chama-se assim porque Adão e Eva, por sua obediência, teriam conhecido o bem, isto é, haveriam tido aumento de graça e de felicidade; ou, como castigo de sua desobediência, deveriam decair, eles e seus descendentes, daquela perfeição e experimentar o mal, tanto espiritual como corporal. 
Queria Deus que Adão e Eva, com a homenagem dessa obediência, o reconhecessem como a seu Dono e Senhor.
O demônio, invejoso de sua felicidade, tentou Eva, falando-lhe por meio da serpente, e instigando-a a desobedecer a proibição recebida. Eva, então, tomou o fruto proibido, comeu, e induziu Adão a que também ele o comesse, e ambos pecaram.

20. Este pecado trouxe para eles e para toda a linhagem humana os mais desastrosos efeitos.
Adão e Eva perderam a graça santificante, a amizade e Deus e o direito à bem-aventurança, ficando escravos do demônio e merecedores do inferno. O Senhor pronunciou contra eles a sentença de morte, desterrou-os daquele lugar de delícias e os lançou fora dali para que ganhassem o pão com o suor de seu rosto, entre inumeráveis trabalhos e fadigas.

21. O pecado de Adão propagou-se depois a todos os seus descendentes, exceto Maria Santíssima, e é aquele com que todos nascemos, e que se chama pecado original.

22. O pecado original mancha nossa alma desde o primeiro instante de nosso ser, faz-nos inimigos de Deus, escravos do demônio, desterrados para sempre da bem-aventurança, sujeitos à morte e a todas as demais misérias.

Promessa de um Redentor
23. Deus, porém, não desamparou Adão e sua descendência em tão desventurada sorte. Em sua infinita misericórdia prometeu-lhes logo um Salvador (o Messias), que haveria de vir para livrar o gênero humano da servidão do demônio e do pecado, e merecer-lhe a gloria. Esta promessa, Deus a foi repetindo sucessivamente outras muitas vezes aos Patriarcas e, por meio dos Profetas, ao povo hebreu.

Os filhos de Adão e os Patriarcas
24. Adão e Eva, depois que foram lançados fora do Paraíso terrestre, tiveram dois filhos, a quem deram os nomes de Caim e Abel. Crescidos já em idade, Caim se dedicou à agricultura e Abel ao pastoreio. Deus havia-se mostrado agradado com os sacrifícios de Abel, o qual, piedoso e inocente, oferecia-lhe o melhor de seu rebanho; Deus, porém, desdenhava os sacrifícios de Caim, que Lhe oferecia os frutos da terra, mas o fazia sem piedade e com mesquinhez. Caim encheu-se de ódio e inveja contra seu irmão e, convidando-o para passearem juntos no campo, atirou-se sobre ele e o matou.

25. Para consolar Adão e Eva da morte de Abel, deu-lhes o Senhor outro filho, a quem chamaram Set, que foi bom e temente a Deus.
Adão, durante sua longa vida de 930 anos, teve muitos outros filhos e filhas, que se multiplicaram e pouco a pouco povoaram a terra.

26. Entre os descendentes de Set e dos outros filhos de Adão, os anciãos, pais de imensa progênie, ficavam à cabeça de tribos formadas pelas famílias de seus filhos e netos, e eram príncipes, juízes e sacerdotes. A História honra-os com o venerado nome de Patriarcas. — A Providência concedia-lhes longuíssima vida para que ensinassem a seus descendentes a Religião revelada e para que, velando sobre a fiel tradição das divinas promessas, perpetuassem a fé no futuro Messias.

O dilúvio
27. Com o correr dos séculos, perverteram-se os descendentes de Adão e a terra toda encheu-se de vícios e pecados.
Por tanta corrupção, Deus primeiro ameaçou e depois castigou o gênero humano com um dilúvio universal. Fez então chover durante quarenta dias e quarenta noites, até que as águas cobriram os montes mais altos.
Morreram afogados todos os homens, salvando-se apenas Noé e sua família.

28. Noé, por ordem de Deus, recebida cem anos antes do dilúvio, havia começado a fabricar sua Arca, espécie de navio, em que depois entrou com sua mulher e seus filhos, SemCam e Jafet, as três mulheres destes, e os animais que Deus lhe havia indicado.

A torre de Babel
29. Os descendentes de Noé multiplicaram-se rapidamente e cresceram em tão grande número que, não podendo já estar juntos, tiveram de pensar em se separar. Antes, porém, quiseram levantar uma torre tão alta que chegasse ao Céu. A obra prosseguia a passos largos, quando Deus, ofendido com tanto orgulho, desceu e confundiu as línguas, de maneira que os soberbos edificadores, não se entendendo uns aos outros, tiveram de dispersar-se sem levar a cabo seu ambicioso projeto. A torre teve o nome de Babel, que quer dizer confusão.

O povo de Deus
30.  Os homens, depois do dilúvio, não permaneceram muito tempo fiéis a Deus, mas recaíram logo nas maldades passadas, e chegaram ainda ao extremo de perder o conhecimento do verdadeiro Deus e de se entregar à idolatria, que consiste em adorar como divindade as coisas criadas.

31.  Por isso Deus, a fim de conservar na terra a verdadeira religião, escolheu um povo e tomou a seu cargo o governá-lo com especial providência, preservando-o da corrupção geral.

Princípio do povo de Deus. Renova-se com Abraão o antigo pacto.
32. Para pai e tronco do novo povo, escolheu Deus um homem da Caldéia, chamado Abraão, descendente dos antigos Patriarcas pela linhagem de Heber. O povo que teve origem nele chamou-se Povo hebreu.
Abraão havia-se conservado justo no meio de sua nação, a qual estava entregue ao culto dos ídolos; e, para que ele perseverasse na justiça, ordenou-lhe Deus que saísse de sua terra e fosse para a terra de Canaã, chamada também Palestina, prometendo-lhe que o faria cabeça de um grande povo e que de sua descendência nasceria o Messias.
Em confirmação da palavra de Deus, Abraão – embora  já em idade avançada – teve  de sua mulher Sara um filho, a quem chamou Isaac.

33. Para provar a fidelidade e obediência de seu servo, ordenou-lhe Deus que Lhe sacrificasse seu filho único, a quem tanto amava e em quem recaíam as promessas divinas. Mas Abraão, seguro destas promessas, não titubeou na fé, e, como está na Sagrada Escritura, esperou contra a própria esperança; preparou tudo para o sacrifício e ia executá-lo. Porém um Anjo deteve-lhe a mão, e, como prêmio de sua fidelidade, Deus o abençoou e lhe anunciou que daquele seu filho nasceria o Redentor do mundo.

34. Isaac, chegado aos quarenta anos, casou-se com sua prima Rebeca, de quem teve, ao mesmo tempo, dois filhos, Esaú e Jacó. 
A Esaú, como primogênito, cabia a bênção paterna; mas o Senhor dispôs que, pela solicitude de Rebeca, Isaac abençoasse Jacó, a quem Esaú vendera, por misera compensação, o direito de primogenitura.

35. Jacó, então, para livrar-se da ira de Esaú teve de fugir para Harão, onde vivia seu tio Labão, que lhe deu por esposas suas duas filhas, Lia e Raquel; depois de vinte anos regressou a sua casa, rico e com numerosa família.
No caminho de volta, antes de reconciliar-se com seu irmão, teve uma visão, e seu nome foi mudado de Jacó para Israel.

36. Jacó foi pai de doze filhos, dos quais os dois últimos, José e Benjamim, eram filhos de Raquel.
Entre os filhos de Jacó, o mais discreto e morigerado era José, que, por isso, era o predileto de seu pai. Por causa dessa predileção, seus irmãos conceberam-lhe uma inveja muito grande, e tramaram sua morte; resolveram depois vendê-lo a uns mercadores ismaelitas, que conduziram ao Egito e o venderam, por sua vez, a Putificar, ministro do Faraó, Rei do Egito.

Jacó e seus filhos no Egito
37. No Egito, José, pela sua virtude, granjeou a estima e o afeto de seu amo; mas depois, caluniado pela mulher de Putifar, foi lançado ao cárcere. Ali esteve dois anos, ate que, por haver interpretado dois sonhos do Faraó profetizado que depois de sete anos de abundância se seguiriam sete anos de carestia, foi tirado do cárcere e nomeado Vice-Rei do Egito.
No tempo de abundância, José determinou que se fizessem grandes provisões, de modo que, quando a fome começou a desolar a terra, o Egito transbordava de víveres.

38. De todas as partes vinha gente buscar trigo ali; Jacó viu-se forçado também a enviar para lá seus filhos, os quais não reconheceram logo a José; mas, reconhecidos por ele, que se deu a conhecer, encarregou-os de levar para o Egito seu pai com toda a sua família.
Jacó, desejoso de abraçar o filho amado, foi para lá, e o Faraó concedeu-lhe a terra de Gessem para sua residência e de sua família.

39. Depois de dezessete anos de permanência no Egito, Jacó, próximo da morte, reuniu em torno de si seus doze filhos, e com eles os dois filhos de José, Efraim e Manassés;  recomendou-lhe que voltassem a terra de Canaã, mas que não lhe abandonassem os ossos no Egito. Abençoou-os a todos em particular, predizendo a Judá que o Cetro do poder supremo não escaparia de sua descendência até vinda do Messias.

Escravidão dos judeus no Egito
40. Os descendentes de Jacó, chamadas hebreus ou israelitas, foram por algum tempo respeitados e tolerados pelos egípcios. Mas, tendo-se multiplicado tanto, a ponto de formar um grande povo, outro Faraó, que reinou mais tarde, oprimiu-os com o jugo da mais dura escravidão, chegando a ordenar que os filhos varões recém-nascidos fossem jogados no Nilo.

Libertação dos hebreus por Moisés
41. Todo o povo hebreu teria perecido na espantosa escravidão do Egito, sem ver a terra de Canaã, se Deus não viesse arrancá-lo das mãos de seus cruéis opressores.

42. Um menino hebreu, chamado Moisés, havia sido salvo providencialmente das águas do Nilo pela filha do Faraó, que o fez instruir e educar na própria Corte de seu pai.
Dele serviu se Deus para livrar o seu povo e cumprir as promessas feitas a Abraão..

43. Crescido Moisés, ordenou-lhe o Senhor que, em companhia de seu irmão Aarão, fosse até o Faraó e o intimasse a permitir a saída do hebreus do Egito. O Faraó recusou. Então Moisés, para vencer o endurecido coração do Rei, armado de uma vara, feriu o Egito com dez castigos prodigiosos e terríveis, chamados as Dez Pragas do Egito. A última delas foi a passagem de um Anjo, que, por volta da meia-noite, começando pelo filho do Faraó, matou todos os primogênitos dos egípcios, tanto dos homens, como dos animais.

44. Na mesma noite em que sucedeu essa mortandade, os hebreus, por ordem de Deus, celebraram pela primeira vez a Páscoa, que quer dizer a passagem do Senhor. Foi este o rito mandado por Deus: que cada família matasse um cordeiro sem mancha e borrifasse com o sangue dele a porta de sua casa, com o que estaria a salvo da passagem do Anjo exterminador; que assasse e comesse logo a carne, em traje de viajante, com o bastão de caminhante nas mãos, como quem esta pronto para a partida.
Este cordeiro era figura do Cordeiro imaculado, Jesus Cristo, o qual com seu Sangue havia de salvar da morte eterna todos os homens.

45. O Faraó e todos os egípcios, à vista de seus filhos mortos, sem mais tardança apressaram os hebreus a que saíssem, entregando-lhe quanto ouro e prata pediram.
Partiram os hebreus e depois de três dias estavam junto a praia do Mar Vermelho.

Travessia do Mar Vermelho
46. Logo, porém, arrependeu-se o Faraó de ter deixado sair os hebreus e imediatamente foi atrás deles com seus exércitos, e os alcançou junto a mar.
Moisés alentou o povo, que estava espantado à vista dos egípcios, estendeu seu bastão sobre o mar, e as águas se dividiram de parte a parte até o fundo, deixando um largo caminho aos hebreus, que passaram a pé enxuto.

47. Obstinado em sua perversidade, o Faraó lançou-se atrás deles por aquele caminho; mas, apenas chegou ao meio, caíram sobre ele as águas, e todos, homens e cavalos, morreram afogados.

Os hebreus no Deserto
48. Passado o Mar Vermelho, entraram os hebreus no Deserto, e em brevíssimo tempo poderiam ter chegado à terra prometida, Palestina, se houvessem sido obedientes à lei divina e às ordens de seu chefe Moisés; porém, havendo prevaricado e havendo-se revoltado muitas vezes, Deus fez com que vagassem quarenta anos no deserto, deixando morrer ali todos os que haviam saído do Egito, menos dois, Caleb e Josué.
Por todo esse tempo Deus proveu o sustento dos hebreus com uma espécie geada de grãos brancos e miúdos, chamada maná, a qual todas as noites cobria a terra, e de madrugada a colhiam. Porém, na noite que precedia o sábado, dia festivo para os hebreus, não caía o maná, pelo que recolhiam o dobro na madrugada de sexta-feira. Para beberem, Deus os provia de água, que brotou muitas vezes dos rochedos feridos pelo bastão de Moisés.
Uma grande nuvem, que de dia os defendia dos raios do sol, e de noite, mudando-se em coluna de fogo, os iluminava e lhes mostrava o caminho, acompanhou-os durante toda a viagem.

Os Dez Mandamentos da Lei de Deus
49. No terceiro mês de sua saída do Egito, chegaram os hebreus ao pé do Monte Sinai. Foi ali que, entre relâmpagos e trovões, Deus falou e promulgou sua Lei em dez Mandamentos, escritos em duas tábuas de pedra, que entregou a Moisés no alto do monte.

50. Mas, quando desceu do monte, depois de quarenta dias em que estivera a falar com o Senhor, Moisés encontrou o povo caído na idolatria e adorando um bezerro de ouro. Abrasado de santo zelo por tamanha ingratidão e impiedade, Moisés fez em pedaços as Tábuas da Lei, reduziu a pó o bezerro e castigou com a morte os instigadores de tão grave pecado.
Tornou a subir o monte, implorou o perdão ao Senhor, recebeu outras tábuas da Lei, e, quando desceu, o povo ficou atônito ao ver que lhe saíam do rosto raios de luz que o enchiam de glória e resplendor.

O Tabernáculo e a Arca
51. Aqui, ao pé do Sinai, fabricou Moisés, por ordem de Deus, e segundo as prescrições divinas, o Tabernáculo e a Arca.
O Tabernáculo era uma grande tenda a modo de templo que se erguia no centro do acampamento quando os hebreus se detinham. 
A Arca era um cofre de madeira preciosíssimo, guarnecido por dentro e por fora de ouro puríssimo, onde depois se puseram as Tábuas da Lei, um vaso com o maná do deserto e a vara florida de Aarão.

52. Muitas vezes os hebreus no deserto, por murmurações contra Moisés e contra o Senhor, atraíram sobre si graves castigos. Foi notável entre estes o das serpentes venenosas, por cuja mordedura pereceu grande parte do povo; muitos, arrependidos depois, sararam das mordeduras olhando para uma serpente de metal que, levantada em uma haste por Moisés, apresentava a forma de cruz. A virtude desse emblema era símbolo da virtude que havia de ter a Santa Cruz para curar as chagas do pecado.

Josué e a entrada na terra da promissão
53. Depois de os haver feito errar durante quarenta anos no deserto, Deus introduziu os hebreus na terra prometida.
Moisés a viu de longe, porém não entrou; Josué sucedeu-o no governo do povo.

54. Precedidos da Arca, atravessaram o Jordão, cujas águas pararam de correr para deixar livre a passagem pelo leito do rio; tomaram a cidade de Jericó, subjugaram os povos que habitavam a terra de Canaã e a dividiram em doze partes, segundo o número das tribos. Assim castigou Deus por meio de seu povo os gravíssimos delitos daquelas nações.
Essas tribos tomaram os nomes de Rubens, Simeão, Levi, Judá, Issacar, Zabulão, Dan, Neftali, Gad, Aser, Benjamim, filhos de Jacó; e de Efraim e Manassés, filhos de José. Contudo, a tribo de Levi não teve território a parte: Deus a chamou para o ofício sacerdotal e quis ser Ele mesmo sua porção e sua herança. Da tribo de Judá, segundo havia profetizado Jacó na hora da morte, nasceu mais tarde o Redentor do mundo.

55. Por aqueles tempos, vivia na Iduméia um Príncipe muito abastado e justo, de nome Jô, o qua1 temia a Deus e evitava fazer o mal. Querendo o Senhor fazer dele um modelo de paciência nas maiores desgraças da vida, permitiu que Satanás o tentasse com tribulações inauditas. Em poucos dias foram-lhe arrebatadas as imensas riquezas, a morte privou-o de sua numerosa família, e ele mesmo viu-se ferido em todo o corpo por umas chagas malignas.
Atribulado com tantas desgraças, Jó não pecou por impaciência; prostrado com o rosto em terra, adorou o Senhor, e disse: "O Senhor me deu, o Senhor me tirou; bendito seja o nome do Senhor". – Deus, em prêmio de sua resignação, o abençoou e, devolvendo-lhe a saúde, deu-lhe mais prosperidade do que antes.
Tudo isto está luminosamente descrito em um dos livros da Sagrada Escritura, o Livro de Jô.

Os hebreus sob os Juízes
56. Os hebreus, guiados por Josué, tendo-se apoderado da Palestina, não a abandonaram mais, sendo governados segundo a lei de Moisés, ou pelos anciãos do povo, ou por Juízes, e, mais tarde, por Reis.
Os Juízes eram pessoas (entre as quais duas mulheres, Débora e Jael) suscitadas e escolhidas por Deus, de tempos em tempos, para livrar os hebreus, sempre que estes, em castigo de seus pecados, caíam sob a dominação de seus inimigos.

57. Os dois Juízes mais ilustres foram Sansão e Samuel.
Sansão, dotado de força extraordinária e maravilhosa, incomodou e causou durante anos mil estragos aos filisteus, poderosos inimigos de Deus. Depois foi traído e perdeu suas prodigiosas forças; recuperando-as, sacudiu e derrubou um templo de seus inimigos, sob cujos escombros se sepultou com três mil deles.
Samuel, último dos Juízes, vencidos já os filisteus, reuniu por ordem de Deus o povo, que alvoroçado pedia um Rei, e em sua presença elegeu e consagrou Saul, da tribo de Benjamim, para primeiro Rei de todo povo hebreu.

Os hebreus sob os Reis
58. Muitos anos reinou Saul, mas depois dos dois primeiros foi rejeitado por Deus em virtude de gravíssima desobediência. Foi então ungido e consagrado Rei um Jovem chamado Davi, da tribo de Judá, que logo se tornou célebre matando em singular combate um gigante filisteu, Golias, que insultava o povo de Deus posto em ordem de batalha.

59. Saul, derrotado pelos filisteus, deu-se a morte. Subiu então ao trono Davi, que reinou quarenta anos sobre todo o povo de Deus. Acabou de conquistar toda a Palestina, subjugando os infiéis que ali restavam, apoderando-se especialmente da cidade de Jerusalém, que escolheu para sede de sua corte e capital de todo o Reino.

60. A Davi sucedeu Salomão, que foi o homem mais sábio que jamais houve. Edificou o templo de Jerusalém e gozou de longo e glorioso reinado. Porém, nos últimos anos de sua vida, pelas artes insidiosas de mulheres estrangeiras, caiu na idolatria e muitos temem por sua eterna salvação.

Divisão do Reino
61. Sucedeu ao Rei Salomão seu filho Roboão. Por não querer aliviar a carga duríssima dos tributos impostos por seu pai, rebelaram-se contra ele dez tribos, que tomaram por Rei a Jeroboão, cabeça dos insurrectos; só duas tribos permaneceram fiéis a Roboão a de Judá e a de Benjamim. O povo hebreu achou-se deste modo dividido em dois reinos, o Reino de Israel e o Reino de Judá, o primeiro constituído pelas dez tribos revoltadas e o segundo pelas duas fiéis. Estes dois Reinos não se uniram mais, e cada um teve a sua história.

O Reino de Israel e sua destruição
62. Os Reis de Israel, em número de 19, todos perversos e afundados na idolatria, à qual arrastaram a maior parte do povo  das dez tribos, governaram pelo espaço de 254 anos. Finalmente, em castigo de suas enormes iniqüidades, parte do povo foi dispersa, parte levada cativa para a Assíria por Salmanasar, Rei dos assírios, e o Reino de Israel caiu para não erguer mais (ano 722 a.C.).
Foram enviadas colônias de gentios para repovoar o país, aos quais se associaram em tempos sucessivos alguns israelitas retornados de seu desterro e alguns maus judeus, e entre todos formaram depois um povo, que se chamou Samaritano, inimigo acérrimo da nação judaica.
Entre os israelitas levados cativos a Nínive, capital da Assíria, encontra-se Tobias, varão santíssimo, de quem há na Bíblia Sagrada uma particular história, muito apropriada para fazer-nos adquirir alta estima de santo temor de Deus e das disposições de sua providência.

O Reino de Judá e o cativeiro da Babilônia
63. Os Reis de Judá, em número de 20, dos quais alguns foram piedosos e bons e outros grandes criminosos, reinaram, somados, 388 anos.

64. No tempo de Manassés, um dos últimos Reis de Judá, aconteceu o que se escreve no livro de Judite, a qual, matando Holofernes, general do Rei dos assírios daquele tempo, libertou a cidade de Betúlia e toda a Júdeia.
Mais tarde, outro Rei dos assírios, Nabucodonosor, pôs fim ao Reino de Judá; apoderou-se de Jerusalém e a destruiu, junto com o templo de Salomão, até os alicerces; fez prisioneiro ao último Rei, Sedecias, e levou o  povo cativo para a Babilônia.

Daniel
65. Durante o cativeiro da Babilônia viveu o profeta Daniel. Escolhido com outros jovens hebreus para ser educado e depois destinado ao serviço pessoal do Rei, granjeou com sua virtude a estima e  o afeto de Nabucodonosor, principalmente depois de lhe ter manifestado e interpretado um sonho que este tivera e do qual depois se havia esquecido.
Também foi muito amado do Rei Dario; mas os invejosos acusaram-no de adorar a seu Deus, desobedecendo o decreto real que o proibia, e conseguiram que ele fosse atirado à cova dos leões, dos quais Deus o guardou ileso milagrosamente.

Fim do cativeiro da Babilônia e volta dos hebreus à Judéia
66. O cativeiro da Babilônia durou setenta anos, depois dos quais os judeus alcançaram de Ciro a liberdade. Tornados à pátria, sob a condução de Zorobabel (ano 538 a.C.), reedificaram Jerusalém e o Templo, alentados na santa empresa por Neemias, preposto do Rei persa, e pelo Profeta Ageu.

67. Mas nem todos regressaram à sua pátria. Entre os que ficaram em terra estrangeira, achou-se, por disposição divina, Ester, a qual, escolhida pelo Rei Assuero para sua esposa, salvou depois seu povo da ruína a que estava condenado pelo Rei, instigado pelo ministro Amã, que odiava Mardoqueu, tio da Rainha.

68. Os judeus, recobrada a liberdade, foram daí por diante mais fiéis ao Senhor, vivendo na guarda de suas próprias leis e reconhecendo como cabeça de sua nação ao Sumo Sacerdote, embora com certa dependência ora do Rei da Pérsia, ora do da Síria ou do Egito, segundo a sorte das armas.

69. Entre esses Reis, alguns deixaram os judeus em paz e outros os perseguiram para reduzi-los à idolatria. O mais cruel tirano foi Antíoco Epifânio,Rei da Síria, que publicou uma  lei pela qual todos os súditos estavam obrigados, sob pena de morte, a abraçar a religião pagã. Muitos judeus, então, consentiram naquela impiedade; porém muitos mais se mantiveram firmes e se conservaram fiéis a Deus; outros muitos sofreram glorioso martírio. Assim aconteceu a um santo ancião de nome Eleazar e a sete irmãos, chamados Macabeus, com sua mãe.

Os Macabeus
70. Levantaram-se então contra o ímpio e cruel Antíoco alguns intrépidos defensores da Religião e da independência da pátria, à cabeça dos quais se colocou um sacerdote, Matatias, com seus cinco filhos, virtuosos e horóicos como ele. Retirou-se primeiro para um monte, e ali, juntando alguns valentes, desceu e desbaratou os opressores.

71. Judas, apelidado Macabeu,filho de Matatias, prosseguiu a guerra começada por seu pai, e com o favor de Deus e ajuda de seus irmãos fundou um pequeno Reino, chamado dos Macabeus; pelo espaço de 128 anos os Macabeus governaram a Judéia como pontífices e generais, e depois também como Reis.
Esse grande chefe militar, Judas Macabeu, chamado nas Sagradas Escrituras “varão fortíssimo”, deu insigne exemplo de piedade para com os defuntos e confirmou solenemente a fé no purgatório, ordenando uma grande coleta de dinheiro com destino a Jerusalém, para que ali se oferecessem dons e sacrifícios em sufrágio dos que haviam caído mortos na guerra santa. Foi por suas muitas vitórias bendito pelo povo e era o terror de seus inimigos. Mas, no fim, esmagado por estes e não sustentado pelos seus, morreu como herói, com as armas na mão, no ano 161 antes da era cristã.
A Judas Macabeu sucederam, um após outro, seus irmãos Jônatas e Simão, e depois o filho deste, João Hircano, que governou sábia, gloriosa e felizmente.

72. Mas os filhos e descendentes degeneraram da virtude de seus maiores, e discordes entre si envolveram-se em desastradas contendas com seus poderosos vizinhos; em breve a Judéia, perdidas as forças e autoridade, veio a cair pouco a pouco em poder dos romanos.

Os romanos e o fim do Reino de Judá
73. Os romanos transformaram a Judéia primeiro em nação tributária; mas pouco depois lhe impuseram um Rei de nação estrangeira, Herodes, o Grande, assim chamado por algumas felizes empresas, mas não certamente grande no juízo da História, que não cala as vilezas e trapaças que empregou para subir ao ambicionado poder, do qual se valeu mais tarde  para perseguir a pessoa adorável de Jesus Cristo em Sua infância. Feliz no exterior, viveu e morreu desgraçadamente: fim ordinário de todos os perseguidores de Deus.
Depois dele reinaram, com maior ou menor poder, três filhos seus e dois netos, mas durou pouco a sua glória, pois seu Reino foi logo reduzido a mera província do Império romano, que enviou um governador para regê-la em seu nome.

Os Profetas
74. Para conservar seu povo na observância da Lei, ou para fazê-lo voltar a ela, quando prevari-cava, e em especial para preservá-lo da idolatria, suscitou Deus em todas as épocas homens extraordinários chamados Profetas, que, inspirados por Ele, prediziam os acontecimentos futuros.

75. Alguns desses Profetas, como Elias e Eliseu, não deixaram nada escrito, mas deles e de seus feitos faz menção a História Sagrada. 
Outros dezesseis deixaram escritas suas profecias, que se conservaram entre os livros da Bíblia Sagrada.

76. Quatro destes, Jeremias, Daniel, Ezequiel e Isaías, são chamados maiores porque suas profecias são mais extensas; os outros doze são chamados menores pela razão contrária.

77. A principal missão dos Profetas era conservar viva a memória da promessa do Messias e preparar o povo para que O reconhecesse. Anunciaram, muitos séculos antes, o tempo preciso da sua vinda, e descreveram com tais pormenores seu Nascimento, Vida, Paixão e Morte, que, lendo o conjunto de suas profecias, mais parecem historiadores que Profetas.

Algumas profecias relativas ao Messias
78. Eis aqui algumas profecias que se referem ao tempo da vinda do Messias:
O Profeta Daniel, perto do fim do cativeiro da Babilônia, anunciava com toda a clareza que o Messias apareceria, viveria, seria negado e morto pelos judeus dali a setenta semanas de anos; e que pouco depois Jerusalém seria destruída e os judeus dispersos, sem se poderem constituir mais em nação.

79. Os Profetas Ageu e Malaquias anunciaram aos judeus que o Messias viria ao segundo Templo, e, por conseguinte, antes da sua destruição.
O Profeta Isaías, além de descrever muitas circunstâncias do nascimento e da vida do Messias, a gentilidade (isto é, os outros povos, os não-judeus) se converteria.

80. O que este e os demais Profetas anunciaram teve seu cumprimento. A saber: completaram-se as setenta semanas de anos, Jerusalém foi destruída, o segundo Templo foi destruído, os judeus foram e continuam dispersos por toda a terra, e os gentios se converteram: logo, o Messias deve ter vindo. Mais: todas estas profecias tiveram sua realização na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e só n’ele; logo, Ele é o verdadeiro Messias prometido.

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